quarta-feira, 18 de abril de 2007

A palavra, quem diria...

No post anterior resgatamos os agentes descritos por Steven Johnson em “Cultura da interface”. Vamos agora ao texto. Em 1997, quando o livro foi originalmente publicado em inglês, Johnson constatou que “praticamente todos os lugares de reunião digital que prosperaram se ancoraram francamente no texto.” (p.55) As metáforas espaciais da interface gráfica se mostravam desnecessárias para a sociabilidade no ciberespaço. E o que podemos verificar 10 anos depois? Elas, as palavras, ainda impõem a tônica das interações nas comunidades virtuais.

Ao analisar um grupo de discussão que tem o samba como temática, Simone Pereira de Sá demonstra que o participante da comunidade virtual só existe através da mediação das mensagens que ele envia ao grupo. As participações se dão em forma de um cibertexto “dinâmico e instável, sem determinação prévia, que se metamorfoseia a partir de novas participações, mudando o seu sentido a cada intervenção.” (p.155) Antes da palavra, não há existência comunitária. Escrevo, logo existo!

Há outras formas de interação? Sem dúvida. No Orkut, cada perfil exibe, além da foto do usuário e de seus amigos, uma série de ícones que representam as comunidades às quais ele se filia. Alguns estudos já comprovaram a baixa conformação comunitária do Orkut, que se caracteriza mais como agregação. Então, os diversos ícones exibidos em cada visualização de perfil podem criar meios para interação amparada, em certa medida, na imagem. Um escudo do Corinthians, um carro importado e uma caixa de Gardenal exibidos na forma de ícones na listagem “minhas comunidades” podem se transformar em canais de interação não-verbal. São imagens que geram identificação e interação.

Há softwares como o Skipe, que possibilitam interações similares às instauradas pelo telefone e, por esse motivo, também apresentam limitações semelhantes a este aparelho. Não se interage com uma comunidade, mas com um ou poucos interlocutores.

Por isso, os estudos acerca de comunidades virtuais ainda devem dedicar atenção ao texto verbal. As nuances desse tipo de pesquisa são assuntos para posts futuros.

Referências completas:
JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

SÁ, Simone Pereira de. Comunidades virtuais e atividade ergódica. In: FRANÇA, Vera; WEBER, Maria Helena; PAIVA, Raquel; SOVIK, Liv. (Org.). Livro do XI Compós. Estudos de Comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 143-161.

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado