segunda-feira, 30 de abril de 2007

Um castelo, quatro brasileiros e a web

Grafiteiros brasileiros se preparam para uma cruzada épica. Vão inundar os muros do Castelo de Kelburn, na Escócia, com a arte de rua tupiniquim. Segundo os idealizadores do projeto:

“The idea is simple and original: take the vibrant and often transient art form of Brazilian graffiti out of its predominantly urban context and apply it to the ancient and permanent walls of an historic rural castle in Scotland.”

A experimentação começa no dia 12 de maio e poderá ser acompanhada pelo site The Graffiti Projetc.

terça-feira, 24 de abril de 2007

A Era Google

Para além das cifras, as marcas revelam o simbólico. Elas estão na fronteira entre capital e cultura. Quanto vale a marca Google? Segundo o ranking BrandZ publicado pela Millward Brown, US$ 66,4 bilhões. General Electric (US$ 61,8 bilhões), Microsoft (US$ 54,9 bilhões) e Coca-Cola (US$ 44,1 bilhões) ficaram para trás. A pesquisa leva em conta tanto os dados financeiros quanto as opiniões de mais de um milhão de consumidores. O que podemos esperar de uma era dominada por uma empresa que gerencia grande parte do fluxo de informações e interações no ciberespaço?

quarta-feira, 18 de abril de 2007

A palavra, quem diria...

No post anterior resgatamos os agentes descritos por Steven Johnson em “Cultura da interface”. Vamos agora ao texto. Em 1997, quando o livro foi originalmente publicado em inglês, Johnson constatou que “praticamente todos os lugares de reunião digital que prosperaram se ancoraram francamente no texto.” (p.55) As metáforas espaciais da interface gráfica se mostravam desnecessárias para a sociabilidade no ciberespaço. E o que podemos verificar 10 anos depois? Elas, as palavras, ainda impõem a tônica das interações nas comunidades virtuais.

Ao analisar um grupo de discussão que tem o samba como temática, Simone Pereira de Sá demonstra que o participante da comunidade virtual só existe através da mediação das mensagens que ele envia ao grupo. As participações se dão em forma de um cibertexto “dinâmico e instável, sem determinação prévia, que se metamorfoseia a partir de novas participações, mudando o seu sentido a cada intervenção.” (p.155) Antes da palavra, não há existência comunitária. Escrevo, logo existo!

Há outras formas de interação? Sem dúvida. No Orkut, cada perfil exibe, além da foto do usuário e de seus amigos, uma série de ícones que representam as comunidades às quais ele se filia. Alguns estudos já comprovaram a baixa conformação comunitária do Orkut, que se caracteriza mais como agregação. Então, os diversos ícones exibidos em cada visualização de perfil podem criar meios para interação amparada, em certa medida, na imagem. Um escudo do Corinthians, um carro importado e uma caixa de Gardenal exibidos na forma de ícones na listagem “minhas comunidades” podem se transformar em canais de interação não-verbal. São imagens que geram identificação e interação.

Há softwares como o Skipe, que possibilitam interações similares às instauradas pelo telefone e, por esse motivo, também apresentam limitações semelhantes a este aparelho. Não se interage com uma comunidade, mas com um ou poucos interlocutores.

Por isso, os estudos acerca de comunidades virtuais ainda devem dedicar atenção ao texto verbal. As nuances desse tipo de pesquisa são assuntos para posts futuros.

Referências completas:
JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

SÁ, Simone Pereira de. Comunidades virtuais e atividade ergódica. In: FRANÇA, Vera; WEBER, Maria Helena; PAIVA, Raquel; SOVIK, Liv. (Org.). Livro do XI Compós. Estudos de Comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 143-161.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Web 3.0: o triunfo dos agentes?

Esta semana, a revista Época traz a reportagem A terceira geração da web. O texto diz que o cientista Tim Berners-Lee trabalha no projeto W3C para desenvolver a Web 3.0, que teria sua lógica amparada na capacidade dos computadores em compreender semântica, ou seja, dominar o significado das palavras. O nome deixa evidente a perspectiva evolucionista em relação à alardeada Web 2.0, na qual os processos colaborativos dão à tônica. Na Web 2.0 temos a Wikipedia e o jornalismo open source. Na Web 3.0 teríamos computadores e softwares capazes de compreender o significado das escolhas dos usuários para fornecer respostas mais precisas. Veja como a reportagem classifica as três gerações:

Web 1.0: A grande biblioteca digital
Web 2.0: A construção coletiva do conhecimento
Web 3.0: Programas interpretam as preferências e axiliam a navegação

Parece-me que a Web 3.0 é o mundo dos agentes descrito há dez anos por Steven Johnson no livro “A cultura da interface”. Segundo as previsões do autor, os agentes seriam delegados (ou representantes) capazes de fazer coisas para nós. O perigo está na transferência de responsabilidade: “O problema começa quando nossos agentes começam a se intrometer em nossas avaliações subjetivas do mundo, quando começam a nos dizer do que gostamos e do que não gostamos.” (p.140)

De fato, devemos imaginar uma perspectiva híbrida entre a Web 2.0 (colaborativa) e a Web 3.0 (inteligência artificial). Os estudos comprovam que não há substituição, mas adaptação. Que tal pensarmos a Web 2.5?

Referência completa:
JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

sábado, 14 de abril de 2007

O gênio e os jornalistas

Stephen Hawking é uma mente brilhante. Físico teórico da conceituada University of Cambridge, descobriu, ainda jovem, que sofria de esclerose lateral amiotrófica. A doença degenerativa que atrofia os músculos não o impediu de produzir. Certa vez, questionado durante uma entrevista para a BBC sobre a imagem dele produzida pela mídia, Hawking brincou com a incapacidade de alguns jornalistas:

"I don't pay much attention to how journalists describe me. I know it is media hype. They need an Einstein like figure to appeal to. But for them to compare me to Einstein is ridiculous. They don't understand either Einstein's work, or mine."

Mais:

http://en.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Comunicação e Sociabilidade - Parte III

Michael Hanke parte de Georg Simmel e Alfred Schütz para analisar as interações no artigo “A noção de sociabilidade: origens e atualidade”. Trata-se de uma abordagem eminentemente sociológica.

Simmel explicita a interação como processo social básico que constitui a sociedade. No entanto, Michael Hanke lembra que é preciso deixar clara a distinção proposta por Simmel entre sociação e sociabilidade. Enquanto a sociação é constituída pelos impulsos dos indivíduos, seus motivos, interesses e objetivos e pelas formas que esses conteúdos assumem, a sociabilidade não tem conteúdo. Isso porque, segundo o autor, “os conteúdos e as formas não são colados ou conectados para sempre; formas que serviram para satisfazer certas necessidades podem ganhar autonomia” (p.130). Quando ocorre o descolamento entre forma e conteúdo, emerge a sociabilidade, a vitalidade do “estar junto”.

Ao partir para a perspectiva sociofenomenológica de Alfred Schütz, Michael Hanke ressalta que vivemos em uma incessante “conexão de sentidos” na qual a intersubjetividade estabelecida por meio de signos é uma categoria fundamental para a existência humana no mundo.

Por isso, tanto para Simmel quanto para Schütz a figura do estrangeiro ajuda a elucidar questões relativas à interação. “O estrangeiro com seu deslocamento socio-espacial, de certa forma, constitui o contrário de uma sociabilidade concluída, pois ele é definido como outsider.” (p.134). De fato, o estrangeiro não é capaz de estabelecer uma intersubjetividade comum e permanece em constante deslocamento.

Por fim, o artigo aborda a perspectiva macro que, confrontada com as análises micro de Simmel e Schütz, revela alterações importantes. Neste ponto destacam-se as transações globais que modificam as identidades e impactam os processos face a face (micro).

Referência completa:
HANKE, Michael. A noção de sociabilidade: origens e atualidade. In: FRANÇA, Vera; WEBER, Maria Helena; PAIVA, Raquel; SOVIK, Liv. (Org.). Livro do XI Compós. Estudos de Comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 127-142.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Comunicação e Sociabilidade - Parte II

“A vida em sociedade instaura inevitavelmente uma complexidade e um dinamismo que a teoria não deve evitar.” Rousiley Maia termina assim o artigo “Sociabilidade: apenas um conceito?”. Preocupada em elucidar a contribuição de Simmel nos estudos das interações, a autora demonstra a necessária interligação e complementaridade das dimensões micro e macro para dar conta de tal complexidade. Dito de outro modo, trata-se de evitar uma divisão estanque entre “forma” e “conteúdo”.

A “forma” proposta por Simmel deve ser encarada como instrumental capaz de captar uma combinação que marca as relações. Formas e sujeitos (ou atores, como prefere a autora) operam uns sobre os outros.

“Em suas interações, os indivíduos se defrontam, não como indivíduos singulares, mas sim como indivíduos já socializados e que devem se definir mutuamente na relação. Assim, as formas podem ser compreendidas como a modelagem mútua de um mundo comum em meio a uma ação conjugada. Elas oferecem aos parceiros da interação uma estrutura de expectativas recíprocas e a possibilidade de construir de maneira coordenada o desenrolar da ação.” (p.8)

Rousiley Maia destaca que também Maffesoli compreende que o universo simbólico constituído e constituinte das relações sociais depende de constante atualização por parte dos indivíduos e de práticas interativas concretas. O alerta está dado: trazer o conceito de sociabilidade para os estudos comunicacionais não se apresenta como alternativa para se abrir mão das análises institucionais e culturais.

Referência completa:
MAIA, R. C. M. . Sociabilidade: apenas um conceito?. Revista Geraes – Estudos em Comunicação e Sociabilidade, Belo Horizonte, n.53, p.4-15, jul. 2002.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Comunicação e Sociabilidade - Parte I

As observações das relações cotidianas comprovam a necessária imbricação entre a comunicação e a sociedade. Em “Sociabilidade: implicações do conceito no estudo da comunicação”, Vera França mapeia as contribuições e os riscos de se incorporar às pesquisas uma noção tão ampla tal como a sociabilidade. O avanço das pesquisas no campo comunicacional demonstrou que os meios de comunicação não são meros instrumentalizadores de práticas pré-definidas, mas, sim, configuradores de uma nova sociabilidade.

Simmel e Maffesoli oferecem suporte teórico para compreendermos as “dinâmicas de associação” e as “forças vitais de agregação”. Eles nos ajudam a olhar a prática comunicativa como espaço próprio da vida social. Não se trata de afastar os meios dos estudos comunicacionais, mas inseri-los na dinâmica social:

“Os meios foram incorporados na vida do dia-a-dia, e eles tanto interferem nas nossas atividades e na construção do sentido como são invadidos e atravessados pelas atitudes prosaicas que edificam a vida cotidiana.” (p.63)

Mas como o pesquisador pode alcançar tal dimensão relacional contida na imbricação meios-sociedade? Apesar de não se aventurar por possíveis caminhos metodológicos, Vera França aponta uma direção eficaz: a busca do sentido.

Como a relação comunicativa está centrada na interação simbólica, ou seja, na linguagem como campo de estruturação e de passagem do sentido, devemos apreender as complexas relações entre mensagens, interlocutores e ambiência (contexto). Aqui está o verdadeiro desafio para se explorar o entrelaçamento entre a comunicação e a sociabilidade.

Referência completa:
FRANCA, V. R. V. . Sociabilidade: implicações do conceito no estudo da comunicação. In: FAUSTO NETO, A.; PORTO, S.; BRAGA, J.L.. (Org.). A encenação dos sentidos: mídia, cultura e política. Rio de Janeiro: Diadorim, 1995,p. 55-66.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Um livro sobre blogs

Esteja preparado quando abrir o livro de Hugh Hewitt sobre blogs. Ele não é fácil! Não o livro, mas o autor. Hewitt é um norte-americano que dá aulas de Direito, possui um programa de rádio com boa audiência, além de cultuar extrema simpatia pelo Partido Republicano e pelo ideário de direita. Gosta de Bush, defende a guerra contra os “inimigos” dos Estados Unidos e adora a Fox News.

Se você conseguir superar a barreira (ou se compartilha ao menos parte das idéias do autor), leia “Blog: entenda a revolução que vai mudar seu mundo”. O livro foi lançado em 2005 nos Estados Unidos e acaba de ganhar tradução em português pela Thomas Nelson Brasil. Não é brilhante, é preconceituoso, mas ajuda a pensar a comunicação contemporânea.

Hewitt acredita que o blog é a versão high-tech da imprensa de tipos móveis criada por Gutenberg, enquanto o blogueiro tem a mesma possibilidade de promover uma revolução como fez Martinho Lutero. Ou seja, tecnologia e mudanças sociais fazem parte tanto da Reforma Protestante do século XVI quanto da cibercultura dos dias atuais. É algo que faz pensar...

O livro é dividido em três partes, sendo que as duas primeiras dão ênfase total ao jornalismo. Para Hewitt, os blogs permitem que todos sejamos jornalistas potenciais a partir de dois atributos: credibilidade como fonte e exclusividade das informações. Assim, cai a necessidade da mediação, pelo menos aquela praticada pela grande mídia que, segundo o autor, está em franco declínio nos Estados Unidos. Aqui está um ponto polêmico da obra, pois Hewitt faz questão de ressaltar que a Fox News - com sua ideologia republicana - está em plena ascensão, como se a queda da audiência estivesse menos calcada na tecnologia e mais no conteúdo. Aqui também encontramos um dos primeiros preconceitos monumentais de Hewitt. Ele diz que os jornalistas que trabalham na dita mídia hegemônica são democratas de esquerda porque ganham mal e têm inveja dos republicanos bem-sucedidos. É mole?

Contudo, ele parece ter razão quando analisa a tática do enxame (ou infestação) praticada por blogueiros que escrevem sobre a política norte-americana. O repórter-pinóquio Jayson Blair, do New York Times, e o candidato democrata John Kerry foram duas vítimas dos blogueiros, que se uniram para ajudar a desmascará-los.

Na terceira parte do livro, Hewitt “revela segredos” para quem quer entrar no mundo blog. É rasteiro e pouco útil aos que possuem uma mínima familiarização com o ciberespaço. Trata-se de um manual ao pior estilo auto-ajuda, vendido no corredor de uma megastore especializada em produtos “pegue-e-faça”.

Levando-se em consideração a escassa bibliografia sobre blogs em língua portuguesa, é uma leitura indispensável, mas prepare o espírito para suportar a soberba imperialista de Hugh Hewitt. Caso você queira se chafurdar... vá ao blog dele!