domingo, 20 de julho de 2008

Muita convergência, nenhuma integração

O professor espanhol Ramón Salavería falou sobre convergência de mídias em palestra para jornalistas do grupo Associados Minas (Estado de Minas, Aqui, TV Alterosa, Portal Uai e Rádio Guarani FM). Segundo ele, as empresas se preocupam muito com o espaço físico – as instalações que agrupam em um mesmo local os profissionais de impresso, TV, rádio e internet – e se esquecem dos métodos de trabalho e das linguagens. A imagem que ilustra este post é da nova redação do New York Times, um bom exemplo da tendência seguida pelas grandes corporações. “Existem processos de convergência em quase todos os grupos jornalísticos do mundo, mas não existe resultado de integração”, argumenta o professor.

Salaverría sustenta que é impossível fazer convergência de conteúdos e profissionais sem o alicerce empresarial. Mas quais seriam as mudanças necessárias para que as empresas de fato enfrentem a realidade? Em primeiro lugar, deve-se abandonar os meios e reforçar as marcas. O maior bem não é o jornal Estado de Minas ou o jornal Folha de S. Paulo, mas as marcas Estado de Minas e Folha de S. Paulo. As empresas devem se desprender dos suportes e focar os conteúdos: é o que garante audiência.

Por fim, mas não menos importante, Salaverría defende que as empresas devem mudar a concepção global do processo. O negócio não está mais na venda, mas na forma de reter a atenção. Em vez de tentar empreender esforços para aumentar as vendas de jornais em banca, as empresas devem traçar estratégias para reter a audiência do público nos diversos produtos que oferece. Num tempo em que o próprio tempo é o recurso escasso, a atenção passa a ser primordial e pode gerar lucros para quem explora comercialmente o jornalismo.

Confira mais no blog e-periodistas, de Ramón Salaverría, e no blog Infotendencias.com, que divulga resultados de uma pesquisa em andamento sobre as experiências de convergência.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Jornalismo cidadão em debate

Jay Rosen, professor do Departamento de Jornalismo da Universidade de Nova York, publicou no Twitter uma definição de jornalismo cidadão:

“When the people formerly known as the audience employ the press tools they have in their possession to inform one another, that’s citizen journalism”.

Depois, deu prosseguimento ao debate no blog Press Think.

A partir do blog de Jay Rosen, tomei conhecimento do post de Dan Gillmor, no blog Center For Citizen Media sobre a origem do termo “jornalismo cidadão”. Autor do “clássico” We the media, Gillmor não dá uma resposta precisa (será que existe uma resposta exata para a origem do termo?), mas aproveita para fazer uma defesa do jornalismo cidadão:

“The most important thing to remember is the democratization that makes it possible for anyone to be part of the journalistic ecosystem. Increasingly, I believe it’s a civic duty, if such an idea still has meaning”.

Para não ficar no oba-oba, recomendo a leitura de uma análise crítica feita por Sylvia Moretzsohn, que aponta um discurso freqüente entre aqueles que defendem a existência de um jornalismo feito por não-profissionais. Discurso este que se baseia em uma relação maniqueísta:

“... o elogio do ‘jornalismo participativo’ concentra-se no confronto entre os jornalistas (confinados a procedimentos rígidos e orgulhosos de seu “privilégio” como detentores da informação) e o público (isto é, a audiência), desinteressado, ansioso pela verdade e agora possuidor dos meios para obtê-la e revelá-la.”

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Jornalismo, Alcatraz e tecnologia

A imagem aí ao lado é da famosa Ilha de Alcatraz, na Baía de São Francisco. Por quase trinta anos, funcionou ali uma prisão federal para alijar do convívio social os principais criminosos dos Estados Unidos. Com o passar do tempo, ficou caro manter os presos na ilha. Hoje, Alcatraz é um patrimônio histórico.

Mas o que isso tem a ver com o jornalismo? Tudo! Recente artigo publicado por Andre de Abreu no Intermezzo debate o oceano que separa as faculdades de comunicação da realidade atual. Os cursos ainda ensinam a adaptar os conteúdos aos meios, ao invés de submeter os meios aos conteúdos.

Não se trata apenas de um jogo de palavras, mas de uma inversão necessária à nova ordem. Dominar a linguagem radiofônica continua sendo tão importante quanto dominar a linguagem televisiva ou impressa. Porém, as novas tecnologias exigem um domínio conjugado. Smartphones editam texto, fotografam, filmam, enviam conteúdo... Tudo com qualidade suficiente para ser publicado em qualquer site noticioso.

Os acontecimentos são amorfos. Por que guardá-los em caixas separadas quando se pode recortar e ajuntar as mesmas caixas para melhor acomodá-los? O artigo diz que a falta de um senso integrado leva à subutilização das narrativas.

Alcatraz ainda vive no jornalismo!

sábado, 5 de julho de 2008

Encontro mostra produção acadêmica mineira

Foram muito bons os debates do GT de "Comunicação e Tecnologias" do I Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais (Ecomig), realizado nos dias 4 e 5 de julho na PUC Minas.

O primeiro dia do evento foi dominado pelos debates sobre a Web 2.0, os desafios impostos ao jornalismo na internet, a interferência dos cidadãos na esfera midiática e o compartilhamento de sentidos em rede.

No segundo dia foram apresentados artigos sobre a fruição estética de notícias, a produção artística na web e as múltiplas facetas comunicacionais dos games.

Também foram apresentados trabalhos nos GTs "Comunicação e Política", "Comunicação e Linguagens", "Comunicação e Sociedade". Participaram do I Ecomig professores e estudantes de mestrado e doutorado da UFMG, PUC Minas e UFJF.

domingo, 29 de junho de 2008

Regulamentar sem compreender?

As propostas de regulamentação da internet esbarram, na maior parte das vezes, na ignorância. Quem formula as propostas tende a desqualificar a rede sem compreender a sua essência. No Código Aberto, Carlos Castilho aborda a questão a partir de três eixos: anonimato, anarquia e controle governamental. A crítica é contundente:

"Isto significa uma renovação total da polícia e das investigações criminais, o que implica uma reciclagem radical ou o afastamento da maior parte dos agentes, procuradores e magistrados atuais. Aí o corporativismo aparece e a solução mais fácil é disseminar a insegurança e desorientação como recurso idiota de tentar matar o mensageiro para desconhecer a mensagem. A solução não está no medo, mas na reflexão, na troca de idéias e no estudo."

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Computar significados

Conheci há pouco o Wordle, ferramenta extremamente simples que permite a criação de nuvens de tags a partir de qualquer texto. Trata-se de um sistema que ordena graficamente os elementos de acordo com o número de aparições. Joguei no Wordle um artigo que apresentarei no Ecomig. Analiso o blog como dispositivo para a prática jornalística. Veja o resultado:


A aparente frieza dos cálculos binários se transforma em uma experiência singular no terreno dos significados. O dicionário Houaiss on-line define assim o computador:

Acepções

■ substantivo masculino
1 o que computa; calculador, calculista
2 Rubrica: informática. máquina destinada ao processamento de dados; dispositivo capaz de obedecer a instruções que visam produzir certas transformações nos dados, com o objetivo de alcançar um fim determinado

Há mais de uma década, Steven Johnson comentou a extraordinária capacidade dos computadores em lidar com os dados que produzem signficados a partir de combinações extremamente complexas:

“Os números revelam alguma coisa sobre o significado de cada documento, ainda que essa revelação seja oblíqua, como um tom de baixa freqüência tremulando numa poça. O computador não pode ouvir o significado diretamente, mas pode captar vislumbres dele em seus reflexos estatísticos” (Cultura da Interface, p.114).

terça-feira, 17 de junho de 2008

Roda Viva na web


Mais de 200 entrevistas do programa Roda Viva, da TV Cultura, estão disponíveis na internet. O recém-lançado canal Memória Roda Viva fornece o texto completo das entrevistas e um pequeno vídeo de dois minutos com um trecho do programa.

A pesquisa no site pode ser feita tanto pelo nome do entrevistado quanto pela temática, que se divide em ciência, cultura, economia, esporte e política. É uma ótima fonte de consulta. Será que o Lula é coerente? Para tirar as conclusões podemos ler as entrevistas de 1995, 1999 e 2006.

Segundo a Agência Fapesp, “o objetivo do site é oferecer o texto completo das mais de 1,2 mil entrevistas feitas em 21 anos de existência do programa”.

Sobre perguntas e respostas

Certo dia, dois professores, um de filosofia e outro de economia, decidem almoçar juntos. Quando terminam de tomar o cafezinho após a refeição, o apressado economista diz:

- Preciso ir, pois tenho que escrever a prova final.

Calmamente, o filósofo responde:

- Eu uso o mesmo exame todo semestre.

O professor de economia, surpreso e indignado, questiona o colega:

- Depois de todos esses anos, os estudantes não descobriram que é a mesma prova?

Ainda sereno, o professor de filosofia responde:

- Ah, eu uso as mesmas questões, mas todo semestre mudo as respostas!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Estúpidos digitais ou apenas mais um falso alarme?

Lançado em maio nos Estados Unidos, o livro “The dumbiest generation”, de Mike Bauerlein, já ganhou destaque na imprensa brasileira. Mas por que o autor acredita que a atual geração é pior que as anteriores?

O subtítulo ajuda a compreender o argumento central do livro: “How the digital age stupefies youg americans and jeopardizes our future”. Em tradução livre: “Como a era digital torna estúpidos os jovens americanos e põe em perigo nosso futuro”. Mas quem são esses jovens? Para Mike Bauerlein são todos aqueles que têm menos de três décadas de vida. A capa do livro traz, entre parênteses, uma alternativa ao subtítulo: “Or, don’t trust anyone under 30”.

A obra argumenta que o motivo da estupidez dos americanos não seria a internet em si, mas o que as pessoas estariam fazendo na internet. No Amazon é possível ter acesso a algumas páginas do livro. Arrisco outra livre tradução, desta vez de uma passagem extraída da página 13:

“Não é suficiente dizer que esses jovens estão desinteressados das realidades mundiais. Eles estão ativamente extirpados delas. Uma maneira melhor de colocar a questão é dizer que os jovens estão enclausurados em realidades mais imediatistas responsáveis por excluir qualquer perspectiva (...) A cada dia, as informações a que têm acesso e as interações praticadas são tão locais e superficiais que os acontecimentos do governo, questões internacionais e nacionais, a história e arte nada despertam neles”.

sábado, 24 de maio de 2008

Mídia social abala velhas estruturas

O GJOL comenta recente pesquisa realizada nos Estados Unidos para aferir a percepção dos jornalistas sobre as mídias sociais (blogs, wikis, podcasts, fóruns etc). Os questionários foram enviados a profissionais que cobrem cinco áreas: política, saúde, estilo de vida, viagens e tecnologia. As respostas revelam que a maior parte dos jornalistas consulta regularmente blogs, apesar de ainda haver desconfiança em relação à credibilidade. Mais do que servir como fonte para a mídia tradicional e longe de ser apenas uma simples reverberação do material produzido por esta, os dados revelam que as mídias sociais agem diretamente sobre os conteúdos, conforme alerta o texto de apresentação da pesquisa:

"That survey suggested that blogs are not only having an impact on the speed and availability of news, but also influence the tone and editorial direction of reporting."

Clique na figura para ampliar

Os jornalistas estão se dando conta de que a consulta e avaliação de material produzido por terceiros é fundamental. Não são os repórteres os únicos produtores de informação. É preciso ter humildade e critério no processo de seleção e edição do que é produzido em blogs e outros ambientes da Web 2.0, como bem explicam Alex Primo e Marcelo Träsel:

"Devido à quantidade de informação circulando nas redes telemáticas, cria-se a necessidade de avaliá-la, mais do que descartá-la. Não é mais preciso rejeitar notícias devido à falta de espaço, porque se pode publicá-las todas. Nota-se um deslocamento da coleta de informação para a seleção da mesma." (Leia o artigo completo).

Para quem quer saber mais sobre mídia social, vale dar uma olhada no e-book What is social media, de Antony Mayfield.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Assim caminha a humanidade...

A academia vive em pé de guerra com a própria academia. Cada respingo de originalidade é disputado como se fosse uma piscina olímpica. Ninguém nada de braçada no oceano das idéias virgens, ainda mais numa era em que a bricolagem é regra.

No OJB, Paul Bradshaw reclama da apropriação de um modelo de redação jornalística para o século XXI. O modelo foi “originalmente” publicado no blog e, segundo o pesquisador, a idéia foi apropriada por Charlie Beckett no recém-lançado livro SuperMedia. Bradshaw não gostou do tímido crédito que aparece na obra e disparou:

I’m not laying any claim to the constituent ideas behind the 21st century newsroom (which are linked to in the original post). And this isn’t an ego trip - I’m more than happy for anyone to rip the model to pieces, rebuild it, adapt it or build on it. That’s why I published it. That’s why I write this blog. What is frustrating is the absence of the transparency we should expect from academic publishing and aspiring networked journalists.

A tecnologia só potencializa algo que Bakhtin alertou no início do século XX: “Toda enunciação, mesmo na forma imobilizada da escrita, é uma resposta a alguma coisa e é construída como tal. Não passa de um elo da cadeia dos atos de fala” (Marxismo e filosofia da linguagem, 1981, p.98). Grandes idéias surgem de outras grandes idéias. Open source, open mind!!!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

“Não há tempo para pensar”

A imprensa noticiou a queda de um avião que não caiu (quiçá decolou). Os relatos dão conta de que a Globo News divulgou e os portais espalharam a informação equivocada na web.

Aos desavisados eu aviso: não será a última barrigada de grandes proporções. Por quê? Ora, porque não basta um incêndio na maior cidade da América Latina. Ao vivo (ou em tempo real – qual a diferença?) algo deve ser dito, o silêncio parece crime no jornalismo. Faz bem para a audiência se tiver acontecido um desastre aéreo. O sociólogo português Nelson Traquina chama atenção para a tensa relação dos jornalistas com o tempo:

“Os jornalistas são pragmáticos; o jornalismo é uma atividade prática, continuamente confrontada com ‘horas de fechamento’ e o imperativo de responder à importância atribuída ao valor do imediatismo. Não há tempo para pensar, porque é preciso agir”. (Teorias do Jornalismo - Volume II - A tribo jornalística: uma comunidade interpretativa transnacional)

Eu aposto que alguém, em alguma redação, queixou-se: “Pena, foi só um incêndio...”. Tragédia, morte, sangue, comoção. Sensacionalismo? Bobagem... O furo deixou de ser o “dar em primeira mão” para ser o “inventar em primeira mão”.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Quando o altruísmo torna-se o maior valor

Às vezes a única saída é “matar no peito e levar na raça”. Não gosto do discurso encantado (aquele que qualifica a web como baluarte da democracia), mas a internet é, sem dúvida, um instrumento fantástico para quem tem coragem e determinação.


Hoje tive a grata surpresa de conhecer o blog do colega Thiago Nogueira, que passou pela rádio-escuta do jornal Estado de Minas. Há mais de um ano ele mantém ativo o Blog DiCarmo. O objetivo é promover a cobertura jornalística de Carmo da Mata, cidade do Centro-Oeste mineiro com quase 11 mil habitantes, segundo dados do IBGE.

Gostei do que vi. A cobertura é bem completa e, na medida do possível, o blogueiro lida com elementos fundamentais do webjornalismo, como a multimidialidade (veja a reportagem “Praça Presidente Vargas quase pronta”).

Por e-mail, Thiago me disse que batalha para conquistar apoio financeiro e maior visibilidade. Mesmo com a expansão do acesso à internet na cidade, o público do blog ainda é constituído por “carmenses ausentes”, segundo dados estatísticos aferidos pelo jornalista por meio do Google Analytics.

O primeiro desafio é mais difícil de resolver, sem dúvida. Obter financiamento para projetos jornalísticos independentes ainda é uma tarefa inglória. Imagine as barreiras impostas para quem deseja angariar investidores para um blog que tem como escopo uma cidadezinha do interior de Minas. Já em relação ao público, acredito que o blog pode crescer bastante na base do boca a boca, estratégia que encontra na internet um campo fértil.

Para quem duvida do valor jornalístico do Blog DiCarmo, recomendo a leitura de uma reportagem exemplar.

Uol aposta na centralização


O Uol acaba de lançar uma seção para centralizar toda a produção jornalística do megaportal. A apresentação afirma que o produto surgiu da fusão do Uol News com o Uol Últimas Notícias. O que me chamou atenção foram os itens que abrem a barra de navegação lateral: Últimas Notícias, Vídeos, Fotos, Infográficos, Blogs. Aposta no conteúdo multimídia e na audiência cativa dos jornalistas-blogueiros. A imagem principal da home tem 300 X 280 pixels. Prender a atenção do internauta com uma boa imagem é mais fácil.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Um bom relato sobre o InterMinas

Juan Varela comenta no Periodistas 21 recente pesquisa de Jakob Nielsen sobre a leitura na web. Os dados revelam que os internautas lêem apenas 20% dos textos publicados em cada página. Bem, eu recomendo aos leitores que se esforcem para ler o post de Marcelo Sander no Mercado Web Minas sobre o InterMinas. Vale a pena!

domingo, 18 de maio de 2008

Acesso é importante, mas apropriação é fundamental

Em post no eCuaderno, José Luis Orihuela nos deixa um alerta:

La brecha digital más difícil de superar no es la tecnológica, referida al acceso, sino la cultural, referida a la apropiación. Una vez que tenemos acceso ¿cómo usamos la tecnología para cambiar el mundo, para mejorar nuestras sociedades y para ayudar a los demás?

Encaro sempre com desconfiança as pesquisas sobre acesso ao computador e à internet, principalmente no Brasil. Inclusão digital não é a possibilidade de uso, mas o como se usa. O que acontece se dermos papel e caneta a um analfabeto? Ele fará alguma coisa. Pode desenhar, rabiscar, expressar seus pensamentos, mas nunca irá escrever. O mesmo ocorre na relação homem/computador ou homem/web.

A propaganda governamental explora cada milhão de novos usuários. Não refuto a importância do acesso, porém, ninguém responde a uma pergunta fundamental: o que estas pessoas estão fazendo na rede?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Flash mob em BH

Foto:Renato Weil/EM/D.A. Press


Rolou uma flash mob em BH! Alguns bravos pontos se conectaram às 13h13 do dia 9 de maio. O palco foi a Praça da Savassi, sob olhar catatônico de um Roberto Drummond bronzeado. Ao sinal sonoro, todos jogaram moedinhas para o alto. O nó que propôs o link foi o designer Diego Belo. O ato foi motivado por um trabalho de pós-graduação cujo objetivo era “entender as estratégias usadas para mobilizar as pessoas em torno de algo”. O camarada criou o blog Coletivo 1313 e convocou a multidão. Heróicos, alguns poucos jovens do sexo masculino formaram uma rede incapaz de pescar um bagre.

Leia a reportagem do jornal Estado de Minas sobre o assunto.

Veja o relato do idealizador do projeto sobre as ferramentas usadas para convocar os pontos:

blog: um ponto de apoio imprescindível. os números demonstram que foi superada a marca dos 1300 acessos em 3 dias.

twitter: a ferramenta mais surpreendente desta experiência. foi capaz de viralizar de forma intensa, atingindo em cheio o público que já está naturalizado com a experiência do flash mob.

orkut: pouco efetivo. não aguçou tanto a curiosidade e impôs muitos empecilhos nesta divulgação.

youtube: cumpriu uma função de suporte. e também bem didática, apresentando outros movimentos.

email: foi uma via interessante de disseminação da idéia. interpreto que o email foi mais importante para familiarizar sobre os flash mobs do que para divulgar. foram enviados 4 emails: quarta e quinta (no horário de almoço), sexta pela manhã e logo após o evento. geraram um bom tráfego para o blog.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O velho repórter ignora a nova mídia

Desde que estreou no iG, há cerca de um mês, o experiente jornalista Ricardo Kotscho já publicou dez artigos. Ótimo texto, credibilidade, faro para boas pautas. A contribuição inclui uma entrevista exclusiva com a ministra Dilma Rousseff. Mas são textos longos, que exigem do internauta a mesma habilidade de um leitor de jornal. Afinal, todos os textos publicados até aqui poderiam estar em jornais ou revistas.

Não há qualquer flerte com as novas linguagens, nenhuma iniciativa multimídia. Somente alguns links em uma matéria que trata de política internacional. O velho (e ótimo) repórter continua sendo um profissional da velha imprensa. Tudo é verbal.

Quando foi publicada a entrevista com Dilma Rousseff, o ombudsman do iG, Mario Vitor Santos, publicou um post em que dizia:

O iG vislumbra a possibilidade de vir a se desenvolver plenamente como veículo jornalístico. Não mais principalmente como mero repetidor de informações obtidas por terceiros e parceiros, mas como origem de furos relevantes, disputando com os jornais, revistas, emissoras de TV, rádio e outros portais.

Sem dúvida, Kotscho pode contribuir com excelentes textos, mas tanto ele quanto a equipe do iG falham em não investir em novas narrativas. A meu ver, perde-se uma grande oportunidade de se fazer algo ainda inédito no Brasil: usar um dos melhores repórteres do país para trabalhar novas formas de se contar histórias. Cadê os vídeos, áudios, infográficos e outros recursos que a web proporciona?

Veja a produção de Ricardo Kotscho no iG.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Parem as máquinas!



O trailer de “Stop The Presses” deixa evidente a temática do documentário: o declínio acelerado dos jornais de papel nos Estados Unidos e a avassaladora ascensão da comunicação mediada por computador. Stop the presses é a versão em inglês de “PAREM AS MÁQUINAS”.

A expressão abriga uma das imagens mais fortes do jornalismo no século XX. Tudo está tranqüilo até que uma informação bombástica acaba de chegar à redação. O editor-geral dá a ordem para que as rotativas sejam imediatamente desligadas. O jornal, que ainda está no prelo, é modificado e, somente então, recomeça a rotina industrial.

Ninguém mais manda as prensas pararem de funcionar, elas estão parando sozinhas. Tecnologia e sociedade caminham juntas para um destino ainda incerto, ou melhor, com algumas poucas certezas, como o gradual desaparecimento dos jornais de papel. Deve ser um ótimo documentário. Vamos torcer para chegar logo ao Brasil ou, quem sabe, vir ainda mais rápido em forma de arquivo para download...

Veja o site oficial do documentário.

Câmera oculta: polêmica no jornalismo

Um texto publicado recentemente no Comunique-se debate os limites da investigação jornalística (se você é cadastrado no site, leia aqui). O texto começa com algumas perguntas:

"Até onde pode chegar um jornalista para cumprir uma pauta? Quais são os limites de uma reportagem? "

O último parágrafo traz a opinião de um especialista no assunto:

"Para Fernando Molica, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), é difícil estabelecer regras diante de situações delicadas. Para ele, o jornalista tem que respeitar os limites, mas a regra é o bom senso. "O jornalista deve avaliar o custo-benefício e nunca tomar decisões individuais, mas sempre junto com a chefia de reportagem", afirma."

O tema também foi debatido no III Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado em Belo Horizonte. Durante a palestra “Jornalismo Investigativo no Mundo”, José María Irujo, do diário espanhol El País, foi taxativo ao condenar qualquer instrumento que não seja visível ou apresentado de antemão aos envolvidos na apuração, como as famosas câmeras ocultas.

Américo Martins, editor-executivo da BBC, contestou a posição do colega de profissão e disse que há casos em que somente o aparato tecnológico oculto pode trazer à tona fatos relevantes. Segundo Américo, a BBC avalia cada caso e só lança mão de câmeras escondidas e outros subterfúgios tecnológicos quando a informação de interesse público somente pode ser obtida desta forma.

sábado, 10 de maio de 2008

Aspas demais no jornalismo brasileiro

O excesso de entrevistas no jornalismo brasileiro foi criticado por Marcelo Beraba no III Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji em BH. A palestra “Fundamentos da Reportagem” apresentou as bases para o trabalho jornalístico:

Observação
Entrevista
Pesquisa
Documentação

Beraba foi taxativo ao condenar o tom declaratório que impregna as reportagens brasileiras. Segundo ele, é necessário resgatar a observação do jornalista, pois somente o olhar atento é capaz de conferir “cor e vida” ao material produzido.

O palestrante disse que o jornalismo brasileiro evoluiu no que se refere à documentação, mas carece de empenho ainda maior para aprender a captar e tratar documentos valiosos à apuração.

Segundo Beraba, as redações estão repletas de repórteres estagnados. São jornalistas que aceitam a rotina e não procuram meios de melhorar a qualidade do que é produzido. “A apuração não é algo natural, não nasce com a gente. É necessário se exercitar o tempo todo”, advertiu Beraba.

Leia a reportagem realizada por Paulo Totti na China, que serviu de apoio à palestra.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Marcos Sá Corrêa: “A Piauí é 100% inútil”


Marcos Sá Corrêa participou, nesta sexta-feira, do III Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado no campus do UNI-BH. O tema da palestra foi o projeto editorial da Piauí, revista fundada por ele e João Moreira Salles. Debate interessante, nada de meias palavras e com alguma pitada de humor. Em suma, uma boa e agradável reflexão sobre o jornalismo.

“A Piauí é 100% inútil, não serve nem para embrulhar peixe, por causa do formato”, disparou o jornalista. Inútil porque abre espaços para assuntos que, aparentemente, não interessam a ninguém. Segundo ele, a revista assume o risco de não ter limite. Nada de editorias ou normas rígidas.

É claro que a ausência de limite diz respeito à fuga dos padrões genereralizados pela imprensa. “O jornal impresso não tem 20 anos de sobrevida”, sentenciou. A apuração e redação são especialmente relevantes para o sucesso do empreendimento, que nasceu há quase dois anos para tentar vender ao menos 7 mil exemplares por mês e já está na marca dos 52 mil.

Sá Corrêa falou sobre a rotina das redações, que inibem a curiosidade dos repórteres. Para ele, “o jornalista essencial é o repórter”. A Piauí tem a intenção, ainda de acordo com o jornalista, de romper a “camisa de força” que sufoca a imprensa. “O texto da Piauí tem o tamanho que o texto merece”, explicou.

Nada de determinações prévias. O encaminhamento da reportagem dita a edição e não o contrário. Na revista, uma reportagem pode ser apuradadurante durante três meses antes de ser publicada. Algo realmente distante da rotina das redações tradicionais, onde a pressão influi sobre a qualidade do trabalho.

Realmente, a Piauí é uma revista fora dos padrões, mas incrivelmente jornalística.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nassif prega humildade e provocação nos blogs


Participei, no dia 6 de maio, do projeto “1a Terça” do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. O tema foi “Os blogs e o jornalismo alternativo” e o convidado foi o jornalista Luis Nassif.

Fiz breve exposição sobre o assunto e Nassif revelou algumas de suas impressões sobre a blogosfera e a atividade jornalística. Segundo o experiente jornalista, “no blog o jogo é outro”, pois a nova ferramenta obriga a um discernimento muito mais apurado por parte do jornalista para lidar com um grande volume de informações que chega por toda parte. Nassif acredita que “o jornalismo tradicional morreu” e o que existe são alguns “fantasmas” que insistem em modelos ultrapassados.

Para ele, o jornalista blogueiro deve trabalhar duas características fundamentais para lidar com a audiência:

1 – demonstrar humildade para avaliar o material publicado pelos leitores e para saber quando algum comentário pode servir para um novo post;

2 – tem que ser um provocador para extrair o melhor dos leitores.

Grande parte da exposição e das perguntas da platéia se concentrou na batalha que Nassif trava com a revista Veja que, segundo ele, “é lixo”. Também foi abordado o Projeto Brasil, que é apresentado como "um empreendimento jornalístico independente que oferece os conteúdos e ferramentas necessárias para a discussão estruturada de temas estratégicos para o desenvolvimento nacional".

Mais uma do Google

Foi ao ar no Jornal da Globo uma extensa reportagem sobre o Google. Segundo a matéria, "se tudo acontecer como imaginam os engenheiros do Google e de outras empresas que apostam na 'computação nas nuvens', num futuro próximo os computadores poderão ser muito mais baratos e usarão programas oferecidos muitas vezes de graça, pela internet. Seria a definitivo ingresso das camadas mais pobres da população no mundo digital."

Veja aqui

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Prezado público

Elogiei, no post abaixo, uma reportagem exibida pelo Fantástico. Acho o produto sensacional. Mas, e o conteúdo? Bem, o Caso Isabella abriu uma série de debates sobre a atuação da imprensa. Mario Vitor Santos, ombudsman do iG, critica a matéria “Casal foi indiciado por contradições”, estampada na manchete do portal. A crítica se concentra no pré-julgamento dos suspeitos e na ausência da voz dos defensores. Ele faz a seguinte análise do caso:

“Agindo assim, o iG soma-se à multidão de acusadores do casal, quando, a meu ver, deveria conter-se, contemplando argumentos e conclusões de acusadores e também de acusados. É verdade que isso não gera muita simpatia, mas jornalismo e popularidade às vezes não caminham juntos. O público raramente tem interesse profundo pelo noticiário, que só empolga as grandes massas quando se torna disputa carregada de melodrama. O jornalismo poucas vezes tem tanto apelo às multidões, em geral apáticas. A tentação de aproveitar é grande, aderindo e liderando o sentimento de indignação. Isso é ainda mais verdadeiro para quem atua na reportagem, atividade relativamente mais “quente” que a dos editores, a quem cabe mais pesar, duvidar e distanciar. Sendo frio e buscando a imparcialidade, o jornalismo está longe de ser perfeito, mas sem eles, se aproxima do pior dos males.”

Leia a íntegra do post de Mario Vitor Santos

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Reportagem para ser vista e revista

O Fantástico conseguiu entrevistar o casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta da garota Isabella. Ótimo, mas não foi o melhor da noite. Sem dúvida, a reportagem que abriu o programa deve ser vista e revista. Detalhes da investigação foram contados com o uso de recursos gráficos de primeira. O repórter foi parar na cena (virtual) do crime. Todo o caso foi bem resumido com riqueza de informações em apenas cinco minutos. Quem não viu tem que ver!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

O jornalismo de gozo fácil

Você abre o jornal, liga a TV, espia a web, passa os ouvidos pelo rádio e acha tudo muito parecido? Tudo sem sentido? No livro “A miséria do jornalismo brasileiro” (2000), o professor e pesquisador Juremir Machado da Silva chama isso de clip-jornalismo:

“Cria-se a notícia. ‘Esquenta-se’ o vazio. Faz-se do inexistente um fato. O clip-jornalismo alimenta-se da dúvida, do suspense, da velocidade e do falso mistério. (...) Nenhum veículo escapa da obrigação de atender o gosto do público. Por quê? Qual o interesse? (...) Modelo original, o sensacionalismo utiliza o clip-jornalismo como forma de expressão e a circularidade como critério de sintonia com o meio (...) Na era do lúdico, somente o gozo fácil justifica o investimento.”